O Natal do Senhor não é apenas uma data no calendário ou um evento social marcado por ceias e troca de presentes. Para os cristãos, trata-se do grande mistério da Encarnação: Deus que se faz próximo, “pequeno” e acessível. Em entrevista ao portal da RCCBRASIL, o padre Bruno Correia de Almeida – Diretor Espiritual da RCCBRASIL na diocese de Rubiataba/Mozarlândia (Goiás), partilhou orientações espirituais e práticas para ajudar os fiéis a viverem um Natal verdadeiramente cristão, desde o tempo do Advento até as oitavas natalinas.

O Advento: tempo de espera ativa e esperança

Segundo o sacerdote, o Advento é um tempo de graça e preparação interior. Não se trata de uma espera passiva, mas de uma espera ativa, marcada pelo crescimento na esperança e pela disposição do coração para acolher o Senhor que vem. “A espera que o Senhor quer de nós é uma espera ativa, na qual aumentamos a tensão do coração para a sua chegada”, explica.

Entre as práticas recomendadas estão:

·        Novenas de Natal;

·        Orações diárias, especialmente aquelas que favorecem o perdão e a reconciliação;

·        Obras de caridade, como sinal concreto de conversão;

Padre Bruno ainda indica um exercício espiritual fundamental neste tempo: abrandar o coração para viver a ternura de Deus. “O Natal só é significativo para quem tem um coração preparado para viver essa ternura”, destaca o sacerdote.

A confissão: o sacramento da esperança

Um ponto central da preparação para o Natal é o Sacramento da Reconciliação. Para o padre, a confissão ocupa um lugar central na preparação para o Natal porque é ela que devolve a paz ao coração e restaura a amizade com Deus. “A confissão é o grande sacramento da esperança”, afirma.

Ao confessar-se, o fiel não apenas recebe o perdão dos pecados, mas também uma graça concreta para continuar lutando contra ele. Trata-se de uma verdadeira “injeção de ânimo” espiritual, que reacende a certeza de que o céu é para nós.

Para o sacerdote, confessar-se é um ato de esperança: “Quando nós nos confessamos, é porque esperamos. Esperamos que o Senhor nos salve.”

Confessar-se no Advento significa:

·        Restaurar a amizade com Deus;

·        Receber a graça para continuar lutando contra o pecado;

·        Preparar-se espiritualmente para a vinda do Senhor, que vem para julgar os vivos e os mortos.

A recomendação prática é buscar a confissão com antecedência, evitando deixá-la apenas para os dias imediatamente anteriores ao Natal.

A vivência litúrgica: quais Missas participar?

Para viver plenamente o mistério do Natal, o padre incentiva a participação:

·        Na Missa do 4º Domingo do Advento, como fechamento do tempo de preparação;

·        Na Missa da Noite de Natal (Missa do Galo), que celebra liturgicamente o nascimento de Cristo;

·        Sempre que possível, nas Missas das oitavas de Natal, prolongando a alegria do nascimento do Senhor até a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus (primeiro de janeiro).

O Natal, lembra o sacerdote, não se reduz a um único dia, mas se estende como um tempo litúrgico rico e profundo.

O Natal em família: Cristo no centro do lar

Padre Bruno reconhece que o Natal é tempo de festa, de ceia, de troca de presentes e de cantos. Tudo isso é bom e faz parte da tradição cristã. Contudo, ele alerta para a necessidade de não perder o centro da celebração: Jesus Cristo.

“Colocar o Senhor no centro do presépio é colocá-lo também no centro do coração.”

Entre as práticas concretas para o ambiente familiar, o sacerdote destaca:

  • A montagem do presépio, inspirada na tradição iniciada por São Francisco de Assis;
  • O uso de orações e cantos cristãos, como “Tu scendi dalle stelle”, composta por Santo Afonso Maria de Ligório;
  • Antes da ceia, a leitura de um trecho das Sagradas Escrituras que narre a vinda do Senhor.

Ele ressalta que ter consciência do que se celebra é sinal de maturidade espiritual. Por isso, sugere que as famílias envolvam também as crianças, explicando o sentido do Natal, à semelhança da tradição judaica da Páscoa, na qual os mais novos perguntam: “Por que esta noite é diferente das outras?”.

Responder a essa pergunta no Natal é anunciar que Aquele que nasceu trouxe luz às trevas, sentido à vida e esperança de salvação.

Caridade, desapego e reconciliação

O fim do ano é também tempo de revisão de vida. O padre sugere gestos concretos:

·        Revisitar guarda-roupas e armários, doando roupas, brinquedos e objetos em bom estado;

·        Praticar a esmola como fruto do desapego;

·        Mobilizar-se em favor dos mais pobres e vulneráveis;

·        Promover a reconciliação, com pedidos de perdão e retomada de relações feridas.

Essas atitudes refletem o próprio agir de Deus, que dá o primeiro passo em direção à humanidade.

A espiritualidade dos santos como inspiração

Por fim, o padre recorda práticas vividas por santos ao longo da história, como a declamação de poesias e cânticos na noite de Natal, especialmente na tradição carmelita, com destaque para São João da Cruz, Santa Teresa de Ávila e Santa Teresinha do Menino Jesus. Esses testemunhos mostram que o Natal pode, e deve, ser vivido com profundidade espiritual, beleza e simplicidade.

Assim, conforme nos ensina padre Bruno, preparar-se para o Natal significa “ganhar tempo” cuidando do coração. Isso porque, um coração reconciliado, terno e disponível se torna a verdadeira manjedoura onde o Senhor deseja nascer novamente.