
Vocação que também pode ser entendido como chamado vem do verbo hebraico qara (chamar, nomear, convidar), de origem profana, e o grego kaleó, que lhe corresponde, obtém peso teológico quando vem de Deus ou Jesus Cristo como sujeito da frase ou quando o chamamento é para uma missão divina. (VOCAÇÃO in dicionário bíblico teológico, 2004)
Desde os tempos primeiros Deus se dirige ao homem para convocá-lo para confiar-lhe uma missão específica. O relato da vocação de Abraão, pai de todos os crentes, nos dá noção dessa convocação divina.
"Iahweh disse a Abrão: “Sai da tua terra, da tuaparentela e da casa de teu pai, para a terra que te mostrarei. Eu farei de ti um grande povo, eu te abençoarei, engrandecerei teu nome; sê uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem, maldiçoarei os que amaldiçoares. Por ti serão benditos todos os clãs da terra. Abrão partiu, como lhe disse Iahweh, e Ló partiu com ele. Abrão tinha setenta e cinco anos quando deixou Harã".
É possível compreender essa narrativa a partir de seu ponto de partida: uma ordem (chamado) de Deus (Cf. 12,1), seguida de uma resposta: a obediência de Abraão (Cf. 12,4). Toda iniciativa é de Deus, trata-se de um chamado vocacional que tem em vista um projeto da parte de Deus. Abraão tem duas opções diante de si. Ele pode aceitar o chamado e todas as suas consequências, ou negar o convite divino. Abraão aceitou e partiu.
A carta aos hebreus nos informa que Deus falou muitas vezes e por diversos modos. (Cf. Hb 1, 1) De fato, Jesus dá sequência a esse chamado:
“Estando ele a caminhar junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar pois eram pescadores. Disse-lhes: ‘Segui-me e farei de vós pescadores de homens’. Eles deixando imediatamente as redes o seguiram.”
Percebam, o chamado do Senhor ocorre no ordinário da vida e é apaixonante e irresistível, é o que percebemos no relato acima. Pedro e seu irmão André se encontravam em sua rotina diária, no trabalho, ao ouvirem a proposta do Senhor eles deixam tudo imediatamente para segui-lo. Sim, a vocação é uma proposta que Deus faz aos homens, não é um merecimento humano, mas uma dádiva de Deus, Ele chamou os que Ele quis.
Vou contar a vocês minha história
Era 14 de agosto de 2016, Dia dos Pais. Eu voltava da casa de meus pais no interior, de Minas Gerais, João Monlevade, estava sozinho no carro, lembrando daquele fim de semana e de tudo que vivenciei na missa naquele dia. Ali naquela viagem Ele falou ao meu coração: “deixa tudo e me segue”. Eu pensava em Deus naquele momento, mas não em vocação. Era só mais um diálogo dentre tantos que já tivemos. Dentro de mim estava tudo resolvido, eu era concursado, tinha um emprego muito bom, alguns bens materiais, servia como leigo na igreja, mas Ele me falou ao coração. Eu não queria ouvir, acreditar, eu fiquei bem mexido por dentro. Chorei de angústia, medo, alegria, muitos sentimentos.
A inquietude que aquela locução interior me deixou, gerou em mim a necessidade de encontrar uma resposta. Na terça-feira subsequente a este domingo eu fui até meu pároco, solicitei que me ajudasse a entender tudo aquilo, tive medo de estar confundindo um possível chamado com o trabalho que desenvolvia como coordenador regional na Renovação Carismática Católica, não queria um fruto da emoção, mas uma vocação autêntica, ele me ajudou a organizar as ideias, me mostrou o caminho. Enquanto ele falava meu coração ardia, a linda musica ressoava em mim, aliás, esse trecho dela: ‘eu pensei muitas vezes calar e não dar nem resposta’, todo o tempo só essa parte cantava no meu interior.
Quase um ano se passou, dessa vez 10 de junho de 2017, durante uma missa em que eu pregaria em um grupo de oração na sequência. No momento da comunhão houve mais um encontro provocado por esse trecho de uma música: “Ó meu Jesus que posso mais buscar depois de abandonar minha vida em tuas mãos, a sua luz eu quero irradiar de dentro do meu lar ao lar dos meus irmãos”.
No domingo de manhã, dia 11 de junho de 2017, na Santa Missa que dava início a um evento da RCC, na comunhão eu ouvi: Cuida da minha noiva, ao que perguntei: é o Senhor? Ele insistiu: Cuida da minha noiva, respondi se me aceita como sou, miserável, eu cuido. Ele disse cuida da minha noiva. Respondi: desisto de resistir!
Participei de todo processo de discernimento vocacional junto ao Seminário Arquidiocesano Coração Eucarístico de Jesus de outubro de 2017 à dezembro de 2018. Nesse acompanhamento descobri que um padre da Igreja Católica é preparado com uma formação sólida, sendo um ano de preparação que chamamos propedêutico, três anos de filosofia e quatro anos de teologia e em todo o processo somos convidados e configurar nossa vida ao Cristo Bom Pastor. Em janeiro de 2019, aos 36 anos, fui admitido no processo formativo (como elenco mínimo, pois já tenho uma primeira formação acadêmica) e deixei tudo o que eu acreditava ser minha segurança.
No dia 29 de junho de 2024, dia dos apóstolos São Pedro e São Paulo fui ordenado sacerdote da Santa Igreja e desse então minha vida tem sido uma doação diária e uma alegria de ter encontrado meu lugar no mundo.
Se há uma vocação, um chamado em seu coração, tenha coragem de correspondê-lo, busque uma direção junto ao seu pároco, vale a pena!
